Do vilarejo abaixo do morro era sempre possível visualizar uma luz, que parecia vir de uma lamparina. Essa luz sempre intrigou um dos habitantes do vilarejo, que decidiu, em uma noite fria de outono, ir ao encontro daquela luz.
Era arriscado subir o monte, mas aquela luz não saia de sua cabeça. Impulsionado pela sua curiosidade e cheio de coragem ele preparou a sua ida. Reuniu seus instrumentos de trabalho, colocou alimentos e água na mochila e iniciou o seu caminho.
A cada vez que se percebia mais perto da luz, seu coração palpitava de expectativa, de descobrir o mistério por trás daquilo.
Ao se aproximar, ele viu que a lamparina estava posicionada perto de um senhor que mexia na terra. Como todos os habitantes daquele reino, aquele senhor também era cego.
O habitante do vilarejo perguntou:
– Porque você está mexendo na terra uma hora dessas?
– Essas flores só podem ser colhidas pela noite, jamais durante o dia, respondeu o senhor.
– Você é cego, como sabe que é noite? Como sabe que é a hora certa de mexer na terra?
– Quem é cego não vê, mas sente. Sente o Sol, sente a Lua e sente a Terra, e escuta. Escuta tudo que eles tem pra nos dizer.
O habitante do vilarejo se perdeu em longos pensamentos após a resposta do cego, enquanto o mesmo continuava a cultivar a terra.
Ainda absorto em seus pensamentos o habitante do vilarejo levou um susto quando se percebeu olhando fixamente para a lamparina — aquela luz era o motivo que o tinha levado até lá.
A luz! Pq vc está com uma lamparina iluminando o caminho se você não enxerga?
Eu posso não enxergar, mas eu preciso que VOCÊ me veja!
Não era a resposta que o habitante do vilarejo procurava quando foi em direção aquela colina, em direção àquela luz. Mas enquanto ele fazia seu caminho de volta para casa ia crescendo um sorriso em seu rosto e uma certeza em seu coração: ele tinha recebido muito mais do que tinha ido buscar.